Entrevista com DJ Erick Jay
Salve! O Submundo do trocou uma ideia com um dos maiores DJs brasileiro, Erick Jay, campeão do DMC World Battle Supremacy e IDA World Technical, ele atua ao lado do rapper Kamau é residente no programa Manos e Minas, na TV Cultura. Nesse bate papo falamos um pouco sobre a cultura do DJ, sua trajetória e conquista, além de falar de suas inspirações e sonhos, confere aí que tá hora:
Submundo do Som - Satisfação total! Uma honra realizar esse
bate-papo contigo, por que você é uma lenda né mano, bicampeão mundial DJ? Como
é essa fita?
Erick
Jay – Sim, duas vezes campeão, são dois campeonatos diferentes, mas é isso World Champion. Eu ganhei em 2016, foram
dois campeonatos, os dois maiores do mundo, DMC
World Battle Supremacy, em Londres,
e IDA World Technical Category, na
Polônia, no mesmo ano foram esses
dois. Foi inédito, foi o primeiro da América Latina a conseguir esse fato,
durante 35 anos ninguém tinha conseguido isso. De brasileiro era eu e mais um,
mas eram duas categorias, o outro estava no solo e eu na batalha.
Final do DMC World Battle Supemacy 2016
Submundo do Som – E você já tinha saído do
Brasil antes? Ou foi com a oportunidade de competir que você conheceu outros
países?
Erick
Jay - Foi a oportunidade de disputar, isso me levou a conhecer outros países,
acredito que foi o jeito mais fácil e mais difícil ao mesmo tempo, difícil por
que tem que treinar, tem que se dedicar. Aí fui representar o Brasil e
aproveitei pra tocar em festas também. Represento o Brasil desde 2009, e aí
todos os anos eu vou.
Submundo do Som - E o que mais te chamou a
atenção lá fora, na cultura hip hop?
Erick
Jay – No geral organização e estrutura! Estrutura para fazer evento de hip hop,
mas mais a organização e recursos, mesmo o cara que ta começando tem recursos e
isso ajuda os caras. Fui em alguns shows de rap e pude ver tudo isso, a
diferença é que tudo vai pra lá mais fácil, principalmente Londres, tem grupos
que nunca vieram para o Brasil, e nunca vão vir, e sempre estão lá, de quatro
em quatro meses. Algumas bandas, eu não tive a oportunidade de ver, mas iam se apresentar
lá, enquanto eu estava lá, bandas de funk soul antigo Billy Ocean, Manhattan, Kool
and the Gang, Mary J Blige, e isso nunca foi para o Brasil, então você vê que a
estrutura lá facilita isso.
Submundo do Som - Você diria que o hip hop
lá está mais em alta que no Brasil, os bailes de rap? Ou é mais a estrutura,
organização e a vontade de fazer a coisa acontecer e aí trazem shows como esses
que citou?
Erick
Jay – Lá eles têm estrutura, lá as pessoas que curtem rap, gostam de música,
entendem, manja? Pode ser que o cara não vista a camisa do hip hop, mas ele
entende e gosta. A maioria das festas que toquei foi assim, as pessoas são mais
mente aberta, são mais maduros, no Brasil pode até ser que temos mais pessoas
que curtem rap, mas é muito amadorismo ainda do público.
Submundo do Som – E nessas festas você
rolou som brasileiro também?
Erick
Jay – Eu rolei algumas coisas sim, a primeira que eu toquei que foi em 2010, eu
toquei mais original funk soul, como Carlos Dafé, depois toquei Jorge Bem,
samba rock, depois toquei coisas deles e depois coisas nossas, fui nessa linha.
Lá posso tocar de tudo que as pessoas aceitam, é uma festa, e as pessoas sabem
que numa festa vai rolar de tudo, não é igual aqui que tem que tocar
determinadas coisas de acordo com o título da festa.
Submundo do Som – E como que você resolveu
ser DJ? Quando que te deu aquele estalo e você resolveu seguir nos toca-discos?
Erick
Jay – Eu comecei na São Bento, eu fui b.boy, comecei a dançar em 1991, com 11
anos e fui dançar até 97/98. Mas em 97 eu já queria ser DJ por que eu colava
nos bailes e via os caras e curtia, via o DJ Hum fazendo scratch aí falei “vou ser DJ!”. Mas foi em 2001 que eu resolvi me
profissionalizar. Aí depois comecei a curtir o Projeto Rap, na FM, e fui
curtindo Consciência Humana, De Menos Crime, Sistema Negro... Eu lembro que o
Sistema Negro foi o primeiro grupo que vi e falei “Caramba!”, e aí eu comecei a
me identificar, eu me inspirava nos caras, e foi aí que eu entrei de vez.
DJ Erick Jay
Submundo do Som – Antigamente ser da
cultura hip hop era ter pelo menos conhecimento de todos os elementos, então o
Erick Jay foi b.boy e é DJ, mas você já pensou em grafitar ou ser um MC?
Erick
Jay – Cara, na época da escola eu até tentei grafitar, mas não tinha
coordenação motora para isso (risos). Mas também cantei, dobrava voz num grupo de
rap na quebrada, mas aí fui vendo que a minha parada era a arte dos toca discos
mesmo. Mas é o que você falou, antigamente os quatro elementos andavam juntos,
os caras gostavam de fazer tudo, conheci vários caras assim, que cantava e
dançava ou grafitava e dançava ou era DJ e grafitava enfim, hoje os quatro
elementos andam separados.
Submundo do Som – Hoje primeiramente que
não tem grupo de rap, os caras estão mais em carreiras solos, e segundo que os
caras não têm mais DJ’s né?
Erick
Jay – Não, não! Não tem, mano o próprio movimento hip hop tá excluindo os DJ’s,
e eu falo mesmo por que eu brigo pela cultura do DJ. Grupo sem DJ não é o
grupo, o verdadeiro rap tem que ser MC + DJ, e pronto. O MC nasceu do DJ, e
poucas pessoas sabem disso, e querem enterrar isso, querem excluir o DJ,
antigamente o DJ era o principal, e hoje ta sendo passado para trás, hoje nas
festas os caras atropelam os DJs, atropelam no sentido de não chamarem para
tocar.
Submundo do Som – Nos anos 90, nós
sabíamos quem eram os DJ dos grupos, eles eram membros fundamentais do grupo,
tinha o Viola no Face da Morte, KL Jay, DJ Cia, o DJ Hum, mas hoje o DJ ele faz
um bico aqui ou lá, mas não está mais junto com os grupos, que têm seus
instrumentais soltos ali por um beatmaker né?
Erick
Jay – Todo mundo se empolga e acha que sabe de alguma coisa, mas não sabe de
nada, falta estudo, falta conhecer mais, e as coisas não é assim né mano? É
muito ego, muita gente achando que canta e que entende. Fora que o a produção
do hip hop era a única que resgatava as músicas antigas, que sampleava as
músicas antigas e hoje tem pouquíssimo disso, o auge foi ali nos anos 90. Hoje
é muito bumbo e caixa e um negocinho ali e os caras já piram, é pobreza musical
na real, independente se o som vira hit ou não, é igual o funk carioca, muita
coisa eletrônica que todo mundo faz, as letras também mano, tudo muito igual
hoje em dia.
Submundo do Som – E você trampa com o
Kamau, desde de 2008 né? Como é trabalhar com ele e como nasceu essa parceria?
Erick
Jay – Vai fazer 10 anos que tô com ele. O Kamau é amante nato da cultura do DJ,
ele cresceu ali com o KL Jay, via ensaio dos Racionais, e ele é um pouco de DJ,
ele pesquisa música todo dia, compra discos, produz algumas coisas. E eu cresci
muito trabalhando com ele, aprendi muita coisa trampando com ele. Ele não quer
que o DJ seja figurante, vai ali solta as bases e só, tem que interagir, fazer
as viradas de beat, fazer colagem, scratch, tenho meu destaque nos shows dele,
e tem que interagir, se o DJ não interage não serve. Eu comecei a trampar com o
Kamau no finalzinho do Non Ducor Duco, peguei o disco pronto e hoje acompanho
ele na turnê de 10 anos desse belíssimo disco.
Kamau e Erick Jay
Submundo do Som – Como que o “Manos e
Minas” apareceu na sua vida?
Erick
Jay – Foi na mesma época que o Kamau me chamou pra trampar com ele, cê
acredita? Dois dias depois o Rappin Hood me chamou pra entrar no programa. Passei
por todas as transformações do Manos e Minas, pelo Rappin Hood, Thaide, Max
B.O. e agora a Roberta Estrela D’Alva, eu sou o cara com mais tempo casa no
programa. E o único programa que dá um espaço pro DJ, pra fazer uma performance
e dar um salve, eu sou livre pra fazer o que quero, tenho meu quadro, é muito
legal mesmo e importantíssimo.
Submundo do Som – Teve algum show do
“Manos e Minas” que você pirou em ver ali de perto?
Erick
Jay – Teve vários manos! Teve Black Alien, MV Bill (2x), Teve o Criolo, tem
vários manos. Síntese também mano, pirei no dia, foi muito foda! O Brown com o
Boggie Nipe foi legal, mas foi uma estrutura muito grande, muita gente
envolvida, e não deu pra curti muito, mas no dia que for o Racionais MC’s aí
vai ser mais loco ainda! (hahaha)
Erick Jay, DJ residente do programa Manos e Minas, da TV Cultura
Submundo do Som – E enquanto você
discotecava, já aconteceu algum imprevisto, do tipo quebrar uma agulha, toca discos
parar, ou algo assim?
Erick
Jay – Já mano, várias vezes, agulha quebrar é o mais comum, já aconteceu de um
toca disco parar e continuar a festa na quebrada só com um toca disco, já
aconteceu de tudo, mas tem que tá preparado mano, preparado pra todos esses
imprevistos que podem acontecer.
Submundo do Som – Erick Jay é adepto da
tecnologia também ou só no vinil mesmo?
Erick
Jay – Tenho em arquivo digital também, por que é bem mais prático, mas também
tenho meus discos, minha coleção tem uns 1.200 discos, mas tem umas raridades
que eu não tiro de casa por nada (hahahaha). Por exemplo tem um do N.W.A.
compacto, o primeiro deles, que comprei em Londres, esse não sai de casa por
nada (hahaha). Eu ganho bastante vinil, mas também compro, compro aqueles que
sempre tive vontade de ter e não podia, e agora posso ter, gosto de comprar uns
mais antigos, vou nas galeria de São Paulo, garimpo ali, mas curto comprar lá
fora, quando vou tocar, o disco é bem mais barato, não só disco o equipamento
também. O DJ é o elemento mais caro, e por isso acaba sendo desvalorizado, mas
é aquilo quem quer ser DJ de toca discos tem que investir!
Submundo do Som – E qual é a diferença de
DJ de hip hop para um DJ de música eletrônica, por exemplo mano?
Erick
Jay - Bom eu acho que o DJ mais completo é o que faz tudo, que toca em grupo de
rap, produz, toca em festa, faz performance, esse é o DJ completo, se o cara só
toca em festa, esse é um DJ de festa, mas o DJ completo é o que sabe fazer de
tudo, que toca em banda de jazz ou de pagode, é um músico, sabe fazer um
scratch na hora certa em qualquer um dos gêneros, sabe tocar seu instrumento,
por DJ é um músico.
Submundo do Som – Quais os DJs que você
curte e se inspira?
Erick
Jay - DJ nacionais eu curto KL Jay, é minha maior inspiração, não só por ele
tocar, mas pelo que ele faz pela cultura, ele ajuda muito e é um cara muito
simples.DJ Luciano da Transcontinental também, tem o DJ Cia, Nuts, DJ Primo, finado, DJ Marcos, tem um
monte de DJ que eu piro mesmo. Agora Internacional tem o Roc Raida, DJ Dexter,
DJ Jazzy Jeff, tem vários que eu não lembro e que foram inspiração pra mim.
Submundo do Som – Como é tocar ao lado do KL
Jay, que é um dos caras que você se inspira?
Erick
Jay - Pra mim é muito loko, o KL Jay viu minha evolução, ele fazia o Hip Hop DJ
que era pra revelar talentos, então ele viu eu que começou ali com ele, ganhar
prêmios internacionais, isso é loko demais, como pessoa também ele é uma cara
muito de boa, nós trocamos muita ideia sobre música, e o que ele fez pela cultura
dos DJs ninguém fez, ele é um cara foda.
Erick Jay e KL Jay
Submundo do Som – Quais os sonhos o Erick
Jay ainda pretende realizar na sua caminhada pela música?
Erick
Jay - Alguns sonhos eu já conquistei, que foi quando eu ganhei o DMC World, foi como ter passado na
faculdade de Harvard! Mas meu sonho é ganhar de novo o DMC. Um sonho que tenho é tocar com grandes nomes da música brasileira,
fazer uma performance, umas colagens e uns scratch
com bandas como o Roupa Nova, Djavan, Roberto Carlos, que é pra galera ver que
o DJ é bem mais que isso, que é um músico também.
Submundo do Som – Pra finalizar mano, que
mensagem você deixa pra rapaziada que tá acompanhando esse bate papo?
Erick
Jay - Independente das dificuldades, se você acredita de verdade, tem que
correr atrás, só Deus sabe o quanto é importante pra você, então você tem que
deixar de curtir algumas coisas e se dedicar, eu queria ser campeão do mundo e
fui! Então não é só pra DJ não, é pra tudo, tem que se dedicar mano, focar no
seus objetivos, nunca diga nunca pra capacidade de uma pessoa! Fé em Deus e pé
na tabua que você vai conseguir conquistar seus objetivos.
Acompanhe Erick Jay no programa Manos e Minas, todos os sábados as 19:30, na TV Cultura.
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